quinta-feira, 29 de março de 2012

Economia Verde - Dep. Arnaldo Jardim

   Mais uma palestra se passou. O deputado Arnaldo Jardim, na ultima segunda feira (26/03), contribuiu para o nosso ciclo de palestras com o tema "Economia Verde". A palestra teve resultados muito satisfatórios e muita interação com as pessoas que ali estavam. Foram discutidos temas sobre energia, meio ambiente, e sobre a mudança de pensamento das pessoas que vivem em um mundo onde o consumo exacerbado é evidente.
   Para quem não pôde comparecer à palestra, disponibilizaremos um vídeo com a gravação de toda a palestra do deputado. Este vídeo estará em breve na aba vídeos. 
   O deputado também disponibilizou a apresentação em power point no seu site http://www.arnaldojardim.com.br/site/publicacoes/ .
As fotos tiradas estão disponíveis na aba FOTOS.
Teremos novas palestras em breve, fique atento.

   Para quem quiser entender mais sobre os desafios da Rio+20, indicamos aqui uma palestra com Ignacy Sachs que acontecerá no dia 02 de Abril.


Até a próxima!

quarta-feira, 21 de março de 2012

Ciclo de Palestras - Deputado Federal Arnaldo Jardim

   É.. foi dada a largada ao nosso ciclo de palestras sobre a Rio+20. A primeira palestra foi ministrado pela Profa. Silvana Zioni, docente da Universidade Federal do ABC e idealizadora do projeto UFABC+20. O tema foi "O caminho da Rio+20" que abordou um histórico de tudo de relevante que aconteceu antes da Rio+20, além de uma prévia do que será abordado este ano na conferência.
   Há 90 dias do início da Rio+20, o grupo UFABC+20 prepara mais uma palestra que ocorrerá na próxima semana. Dessa vez, o palestrante será o Deputado Federal Arnaldo Jardim, engenheiro civil e professor. Para quem quiser saber mais sobre o deputado, acessar http://www.arnaldojardim.com.br/site/home/index.php. O tema escolhido foi "Economia Verde e sua perspectiva para o Brasil" que por sinal será o mais discutido na Rio+20.
   A palestra acontecerá no dia 26 de Março (segunda feira) às 19h00 no Auditório 111-0 no bloco A do Campus Santo André. 




Financiamento à economia verde opõe países na Rio +20, diz ONU

VERENA FORNETTI
DE NOVA YORK

   O secretário-geral da Conferência das Naçôes Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), Sha Zukang, afirmou que os países que participarão da reunião no Rio de Janeiro, em junho, concordam que a criação de uma agenda social é necessária para garantir desenvolvimento e proteção ao ambiente.
Zukang disse, entretanto, que o financiamento das ações gera dúvidas.
"Quem deve arcar com os custos de se avançar em direção a uma economia verde?", questionou, ao citar uma das principais questões levantadas pelas delegações.
   Outras dúvidas, segundo ele, são as condições em que haverá transferência de tecnologia para a promoção de desenvolvimento.
   O diplomata discursou nesta terça-feira, na ONU, ao iniciar a primeira rodada de negociações informais sobre o Rascunho Zero, documento que guiará a conferência, a ser realizada 20 anos após a Eco-92.
   Desde as reuniões em janeiro houve avanços, disse. Entre eles, apontou o reconhecimento de que a economia verde deve ter padrões sociais inclusivos.
   O diplomata também afirmou que há consenso sobre o desejo de evitar protecionismo e sobre o respeito a diferentes níveis de desenvolvimento e prioridades entre os países.
   Pediu aos países esforço para resolver as divergências. "Vamos lembrar que Rio +20 é uma conferência de implementação. Portanto, o resultado deve fornecer um quadro de ação ousado e radical. Devemos fechar lacunas", disse o diplomata, ao abrir o encontro.

EXPERIÊNCIA BRASILEIRA

   Em debate promovido hoje pelo Brasil na ONU, Rômulo Paes de Sousa, secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, apresentou iniciativas brasileiras que conjugam garantia de renda, acesso a serviços públicos e proteção ao ambiente (conhecidos como três pilares do desenvolvimento sustentável).
   Entre as iniciativas, citou o Bolsa Verde, que remunera famílias pela conservação da floresta amazônica. Esse é um dos programas que integram o Brasil sem Miséria.
"A pobreza é um obstáculo para ter uma política de preservação ambiental bem-sucedida.      Um contexto de extrema pobreza acaba levando populações a desmatar ou fazer usos menos racionais do ambiente", destacou Sousa.
 O secretário afirmou que as propostas de inclusão foram bem-recebidas pelas organizações e delegações que participaram do encontro, mas também destacou que os países receiam sobre a fonte de recursos para as iniciativas.
   Os debates preparatórios para a Rio+20 continuarão, em Nova York, nesta e na próxima semana.



terça-feira, 20 de março de 2012


Do Rio ao Rio
Por Angela Alonso
Arilson Favareto
10/03/2012
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável de 2012 (Rio+20) acontecerá num lugar simbólico – o Riocentro. Ali, nos anos 1980, militares extremistas organizaram um atentado terrorista, visando incriminar organizações de esquerda. Tentativa desesperada de manter o regime militar que dava passos largos rumo à decadência, ao mesmo tempo em que ganhava corpo um crescente e vigoroso movimento social por democracia. Quando, anos mais tarde, as Nações Unidas decidiram sediar no Brasil a Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992 (a Rio 92), o cenário político nacional ainda era turbulento, embora já sob regime democrático. O país enfrentava uma crise em duas frentes. Na economia, uma sucessão de “planos de estabilização econômica” haviam se mostrado incapazes de conter a hiperinflação e superar uma década de estagnação econômica. Na arena política, a mobilização por eleições livres, após duas décadas de regime militar, terminara na eleição de um governo de direita, o de Fernando Collor, duro golpe para movimentos, como o ambientalista, que apoiaram a candidatura derrotada de Luiz Inácio Lula da Silva. A consequência é que o governo Collor não contou com o respaldo do movimento ambientalista quando se começou a organizar a Rio 92. Os ambientalistas tinham feito parte do movimento pela redemocratização do país que marcara a década anterior. Essa proximidade com outros movimentos sociais levou os ambientalistas a juntar questões sociais e ambientais (uma agenda verde, outra agenda marrom) numa mesma agenda “socioambiental”. Essa agenda guarda-chuva permitiu a formação de um amplo espectro de alianças, congregando ambientalistas com movimentos sociais populares e de classe média, no momento preparatório da Rio 92.
Isto também se deve ao fato da conferência da ONU ter sido interpretada por ativistas de diversos movimentos sociais como arena capaz de dar visibilidade nacional e internacional para suas demandas. Daí a razão pela qual os movimentos sociais sem qualquer engajamento anterior com questões ambientais ”esverdearam” suas bandeiras sociais de origem. O Fórum Brasileiro de Organizações Não Governamentais e Movimentos Sociais pelo Meio Ambiente e o Desenvolvimento emergiu nesse processo, aproveitando os debates do Fórum Global da Rio 92 para destacar questões sociais. O Fórum cresceu e logrou atrair a atenção da mídia nacional e internacional, permitindo a realização de alianças entre grupos ambientalistas locais e globais, como o Greenpeace e o WWF. A Rio 92 se firmou, então, como o lócus de uma grande e diversificada mobilização socioambientalista dirigida à opinião pública interna e externa, e em oposição e alternativa à posição do Estado brasileiro. O largo espectro de alianças e a visibilidade auferida deram ao movimento ambientalista uma proeminência inédita na cena pública, capaz de influenciar decisivamente os debates oficiais sobre o que viria a ser a Agenda 21.
Essa equação “movimento socioambiental vigoroso – Estado nacional frágil” não se aplica ao Brasil de hoje. A Rio+20 acontecerá numa situação bem diferente daquela de vinte anos atrás. Apesar da crise econômica no plano internacional, a sociedade brasileira experimenta um inédito período de expansão econômica e de ascensão social das classes mais baixas. De 2004 a 2009, mais de 19 milhões de pessoas superaram a linha da pobreza e 32 milhões passaram a compor a classe média brasileira. Lula concluiu seu segundo mandato como presidente extremamente bem avaliado e tendo incorporado nas políticas do Estado boa parte das demandas sociais do movimento pela redemocratização. Essa é uma das razões pelas quais a mobilização conjunta em torno de questões sociais e ambientais declinou e fissuras se criaram entre movimentos sociais populares e ambientalistas.
A outra razão diz respeito a mudanças no perfil do próprio movimento ambientalista brasileiro. Hoje, o movimento se apresenta forte e globalizado. Contudo, sua fase de contestação parece ter ficado para trás. Em vez da postura de antagonista do Estado, como em 1992, veem-se mais e mais parcerias entre organizações ambientais e instituições governamentais – fenômeno, aliás, similar ao que se passa em muitos países nos quais os “verdes” têm participado dos processos políticos convencionais. O movimento ambientalista também mudou no que toca à sua agenda, deslocando sua atenção para uma agenda neoconservacionista, centrada em questões relativas à biodiversidade e proteção de florestas, e deixando em segundo plano as questões ambientais urbanas e a agenda social. Isto é, a agenda socioambiental dos anos 1980, na prática, se partiu, com um distanciamento crescente entre os movimentos de pauta marrom e os de pauta verde.
Outra mudança importante no que toca ao perfil é que parte significativa dos grupos ambientalistas tornou-se profissionalizada e altamente especializada, atuando como administradores de áreas protegidas ou na implementação de programas e projetos, o que reforça o menor espaço e energias para ações políticas reivindicatórias. Apesar do crescimento da preocupação com questões ambientais entre jovens, governos locais e mesmo entre a iniciativa privada, as organizações ambientalistas estão longe de mostrar hoje a mesma capacidade de mobilização que tiveram durante a Rio 92, quando se realizaram grandes manifestações públicas e protestos. No momento atual, a via preferencial dos movimentos privilegia a mesa de negociação às ruas. Mesmo nas situações em que os movimentos optam por organizar protestos em torno de questões ambientais, os resultados têm se mostrado distante das expectativas das lideranças e das organizações promotoras. É este o caso das recentes manifestações contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte ou contra a reforma do Código Florestal, que alcançaram alguma repercussão na mídia, mas não mobilizaram contingentes nem reuniram forças sociais da magnitude das que foram às ruas no início dos anos 1990. O novo estilo de ativismo ambientalista repousa mais em declarações de lideranças e personalidades, como artistas e intelectuais, à mídia e em ações simbólicas diretas que requerem apenas poucos e motivados indivíduos (estilo que consagrou as campanhas do Greenpeace), do que em manifestações populares massivas com o volume, a força e a diversidade demonstrados em 1992.
Ao longo da última década, essa profissionalização das organizações ambientais e de seus quadros e as parcerias com o Estado beneficiou ambos os lados, aperfeiçoando capacidades e políticas no setor. Consolidou-se um campo ambiental relativamente autônomo no Brasil, com suas próprias regras, discursos e especialistas. Nesse sentido, os ambientalistas têm agora novos trunfos e habilidades no jogo contra outras forças. Mas o efeito colateral foi uma tecnificação do discurso ambiental e o afastamento em relação a outras forças, habilidades e campos da vida social que poderiam ser mobilizadas como aliados. Deste ângulo, os grupos ambientalistas estão menos fortes e preparados para discutir e negociar interesses sociais conjugados às demandas ambientais, do que estavam em 1992.
Questões desse gênero certamente estarão na agenda da Conferência de 2012. Isto pode ser percebido já nos temas centrais previstos. Nos encontros preparatórios para a Rio+20, vem se enfatizando a necessidade de implementar acordos anteriores (Rio 92, Agenda 21, Joanesburgo), por meio de uma nova abordagem para os processos de tomada de decisão pelos agentes econômicos. Sob o termo “economia verde”, cria-se a expectativa de que critérios ambientais e sociais de eficiência possam ser combinados. A questão a ser respondida é se a ideia de “economia verde” será mais exitosa no enfrentamento e equacionamento de desafios econômicos, sociais e ambientais do que sua antecessora, a ideia de “desenvolvimento sustentável”, a qual também continha a mesma promessa de harmonizar pautas. E cabe perguntar se essa nova fórmula será capaz de envolver e beneficiar não somente os ambientalistas e o mundo dos negócios, mas também grupos tradicionais e organizações representativas das populações que vivem nas áreas apontadas como prioritárias para a proteção e a gestão ambiental.
Como se vê, dois objetivos contraditórios emergem no horizonte da Conferência de 2012 – legitimidade e eficiência. Combiná-los não será tarefa fácil. A Rio+20 pode ser vista como oportunidade para criar uma via alternativa de conciliação entre desenvolvimento econômico, responsabilidade social e conservação ambiental. Mas a cúpula também envolve riscos. Num contexto internacional marcado por estagnação econômica e ataque às políticas de bem-estar social, um novo ciclo de crescimento dirigido por uma transição rumo a uma economia de baixo carbono poderia prover uma plataforma comum, capaz de envolver uma ampla coalizão de empreendedores, ambientalistas e grupos sociais. Porém, também se pode vislumbrar um cenário alternativo: a priorização pelos governos nacionais do estímulo à rápida retomada do crescimento econômico capaz de trazer de volta os empregos, com as preocupações ambientais relegadas ao segundo plano.
Em síntese, ainda que se busque invocar o sucesso experimentado com a ampla mobilização de forças sociais visto duas décadas atrás – e aludido na escolha do simbólico Riocentro como sede da Conferência – o fato é que a Rio+20 acontecerá sob condições muito diferentes. Os atores nacionais e internacionais, o governo e a sociedade, e, em particular, um ator chave, o movimento ambientalista, são hoje bem distintos em perfil e propósitos. Comparada à Rio 92 a Rio+20 será provavelmente mais discreta e menos diversificada. Resta saber se ela logrará apontar caminhos novos para enfrentar os desafios postos em escala doméstica e no plano internacional, de modo a ganhar tanta relevância histórica quanto teve sua predecessora.
Angela Alonso é professora de sociologia da Universidade de São Paulo (USP) e co-coordenadora da área de conflitos ambientais do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
Arilson Favareto é professor de sociologia e economia da Universidade Federal do ABC (UFABC) e co-coordenador da área de conflitos ambientais do Cebrap.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Cúpula dos Povos debate causas da crise ambiental

O encontro acontecerá paralelamente à Rio+20

Alana Gandra, da  

Rio de Janeiro - Causas estruturais da crise ambiental, falsas soluções, a economia verde e as propostas vindas dos povos do mundo inteiro constituem os principais debates da Cúpula dos Povos, que ocorrerá no Rio de Janeiro, paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. 
Atividades autogestionadas, isto é, livres, marcarão os dias 15 e 16 de junho, precedendo a marcha que abrirá oficialmente, no dia 17, os trabalhos da Cúpula dos Povos.
Nos dias 18 e 19 de manhã, continuarão sendo realizadas atividades autogestionadas. À tarde, o Comitê Facilitador da Sociedade Civil para a Rio+20 vai realizar a Assembleia Permanente dos Povos, onde serão discutidos temas como as causas estruturais da crise ambiental e ecológica e as soluções indicadas pelas Nações Unidas (ONU) para resolver o problema, entre elas a economia verde.
O diretor da Associação Brasileira das Organizações Não Governamentais (Abong), Ivo Lesbaupin, disse que tanto a economia verde quanto os créditos de carbono são soluções que “não mexem no fundamental”. Ou seja, não alteram o modelo de produção e de consumo atual. Para ele, o programa da ONU sobre economia verde inclui uma série de propostas interessantes, mas que não mexem no essencial. A Abong faz parte do grupo de articulação do Comitê Facilitador da Sociedade Civil para a Rio+20.
Um exemplo são os combustíveis fósseis na matriz energética. Outro é a questão da mudança do modelo produtivo e consumista, "a causa principal da destruição da natureza”. De acordo com Lesbaupin, a ONU considera que existe um desperdício de certos serviços ambientais que a natureza presta pelo fato de eles não terem preço. A Abong discorda e diz que esse é um caminho para a mercantilização e consequente privatização desses serviços.
As ONGs prometem apresentar na assembleia projetos para resolver os problemas na área ecológica. “A ideia é fazer a proposta de uma nova forma de organização econômica, de produção, e continuar vivendo em uma relação harmoniosa com os bens naturais”.

Para ter acesso a reportagem completa, acesse: http://www.revistapesquisa.fapesp.br/pdf/193/018-025.pdf


quarta-feira, 7 de março de 2012

RIO+20 deverá ter foco em economia verde inclusiva

07/03/2012
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), que será realizada no Brasil em junho, não terá o caráter legislativo da ECO-92, cujo legado transformou para sempre a perspectiva mundial sobre o tema do meio ambiente.
No entanto, a RIO+20 poderá alcançar um impacto planetário de magnitude semelhante ao da ECO-92, contanto que consiga superar o desafio de integrar de forma equânime os três pilares do desenvolvimento sustentável: as dimensões ambiental, econômica e social.
A defesa dessa integração é o cerne da posição brasileira na conferência, de acordo com o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, subsecretário-geral de Meio Ambiente, Energia e Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores (MRE), que participou nesta terça-feira (06/03) do BIOTA-BIOEN-Climate Change Joint Workshop: Science & policy for a greener economy in the context of RIO+20. Machado é o secretário-executivo para a comissão brasileira da RIO+20.
Planejado para que a comunidade científica possa discutir os temas da RIO+20, o evento, que terá continuidade nesta quarta-feira (07/03), foi realizado conjuntamente pelo Programa BIOTA-FAPESP, pelo Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) e pelo Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).
“A RIO+20 é uma conferência sobre desenvolvimento sustentável e não apenas um debate sobre meio ambiente. A intenção da presidência da conferência é que as dimensões ambiental, social e econômica tenham o mesmo peso no debate. O governo brasileiro, por sua vez, entende que, se os desafios do século 21 não forem vistos de maneira integrada, jamais conseguiremos atingir níveis de sustentabilidade”, disse Machado.
De acordo com o embaixador, o mundo atravessa uma época de crise internacional e os atuais modelos de desenvolvimento demonstram uma erosão em sua capacidade de dar respostas aos novos desafios.
“Os modelos atuais produzem crises em todos os pilares do desenvolvimento sustentável: a crise climática, a perda acelerada da biodiversidade, a degradação social e a crise energética demonstram isso. Estamos fazendo algo errado”, disse.
Na época da ECO-92, segundo Machado, os países desenvolvidos acreditavam que haviam resolvido suas questões econômicas e sociais e dirigiam o foco das discussões para os temas exclusivamente ambientais. Enquanto isso, os países em desenvolvimento tinham o foco no desenvolvimento econômico apoiado no contexto da sustentabilidade.
“Vinte anos depois, o mundo virou de cabeça para baixo: os países desenvolvidos estão lidando com uma profunda crise econômica e social, enquanto os países como o Brasil são líderes na área em tecnologias verdes, em investimentos em energia limpa e avançaram na inclusão social”, disse.
Nesse novo contexto, segundo Machado, a RIO+20 não tem mais uma agenda que olha o econômico, o ambiental e o social separadamente. Por isso, a comissão brasileira da conferência tem utilizado o termo “economia verde inclusiva”, a fim de remeter ao trinômio “crescimento”, “inclusão social” e “proteção da natureza”.
“A decisão política do século 21 é a de integrar essas três dimensões. Esse é um desafio para todos os países e para a RIO+20. Se conseguirmos essa integração, finalmente poderemos, depois de duas décadas, realizar as promessas da ECO-92”, afirmou Machado.
Na abertura do evento, o presidente da FAPESP, Celso Lafer, destacou o protagonismo do Brasil e a importância central da ciência no contexto da RIO+20. Segundo ele, o Brasil é uma grande potência no tema do meio ambiente e nenhum dos grandes problemas dessa agenda pode ser encaminhado sem ativa participação brasileira.
“A liderança brasileira tem legitimidade internacional. É preciso ressaltar também a relevância do conhecimento no processo da RIO+20. A conferência envolve problemas de natureza complexa para os quais uma adensada pesquisa fornece indicações imprescindíveis”, disse Lafer.
“Esse workshop proposto pela FAPESP, com participação dos pesquisadores que vêm alargando o horizonte do conhecimento sobre mudanças climáticas, bioenergia e biodiversidade, contribuirá para a preparação das negociações, integrando nosso discurso”, disse.

Questão energética
Durante o evento, a palestra “A produção de bioenergia no contexto da RIO+20” foi apresentada pelo físico José Goldemberg, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP) que era secretário do Meio Ambiente do Brasil durante a ECO-92.
De acordo com Goldemberg, o documento preparado pelo secretariado da ONU com contribuições dos países participantes da RIO+20, incluindo o Brasil, contém 128 parágrafos, sendo que dois deles são dedicados ao problema da energia. Um dos principais objetivos estabelecidos pelo documento é o acesso básico universal a um mínimo de energia moderna, até 2030, com o dobro da eficiência energética atual.
“O significado dessas considerações é muito profundo, se observarmos os dados de que dispomos. Atualmente, mais de 80% da energia consumida no mundo provém de fontes fósseis: petróleo (34,6%), gás (22,1%) e carvão (28,4%). As energias renováveis correspondem a 12,9% do total”, afirmou Goldemberg.
A extrema dependência do petróleo impõe uma limitação física insustentável: o esgotamento das reservas. Por maiores que sejam as reservas descobertas no pré-sal brasileiro, segundo Goldemberg, elas são uma contribuição modesta para as fontes de energia de petróleo do mundo.
“Além da limitação física, o petróleo tem um grave problema de acesso, já que as fontes estão distribuídas de forma errática no mundo. Em seguida, temos o problema mais grave que é o impacto ambiental das emissões de gases de efeito estufa, que contribuem para o aquecimento global. Os combustíveis fósseis são responsáveis por boa parte da prosperidade e conforto que a humanidade conseguiu, mas lamentavelmente essa situação não pode durar”, disse.
Parte significativa do consumo de combustíveis fósseis, segundo Goldemberg, é proveniente do transporte individual. E a tendência é que o número de carros aumente expressivamente nos próximos anos, alavancando o consumo de gasolina. Entre 1980 e 2010, a demanda mundial por gasolina subiu de 0,8 trilhão de litros por ano para quase 1,3 trilhão de litros.
São 30 milhões de barris diários, correspondendo a um terço do consumo mundial de petróleo. Essa situação não vai melhorar. Nos Estados Unidos há quase 800 automóveis por mil pessoas. Outros países industrializados têm 500 automóveis por mil habitantes – que é aproximadamente a escala na cidade de São Paulo. Os países menos desenvolvidos estão seguindo essa trajetória. A previsão é que em 2050, em vez dos atuais 750 milhões de automóveis, tenhamos 2,25 bilhões”, disse.
Para reduzir a magnitude do problema, segundo Goldemberg, é preciso que o mundo busque um modelo semelhante ao brasileiro: expandir a matriz hidrelétrica onde for possível e investir em outros componentes renováveis. Um dos caminhos do desenvolvimento sustentável na área de energia, de acordo com ele, é a substituição da gasolina por um combustível produzido a partir de biomassa.
“O único combustível que vem fazendo isso de maneira eficiente e em escala comercial até agora é o etanol de cana-de-açúcar. Se conseguirmos desenvolver o etanol de segunda geração, poderemos aumentar a produção sem aumentar a área plantada. Para isso é preciso investir em pesquisa. No contexto da RIO+20, acredito que a contribuição do etanol de cana-de-açúcar originário de países tropicais deverá ser uma das cartas importantes na discussão”, disse.

Clima, bioenergia e biodiversidade
Durante o evento, o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, fez uma apresentação sobre os programas BIOTA-FAPESP, BIOEN e PFPMCG. De acordo com ele, o BIOTA tem como objetivo não apenas caracterizar a biodiversidade do Estado de São Paulo, como definir mecanismos para sua conservação e uso sustentável.
“O BIOTA-FAPESP já teve 915 projetos de pesquisa e bolsas aprovados. Foram cerca de R$ 100 milhões investidos em 12 anos. Em 2011, o programa cresceu muito, com renovado interesse da comunidade científica paulista, e o valor concedido apenas naquele ano foi de R$ 22 milhões. Um dos impactos importantes do programa, além de fazer ciência de boa qualidade, foi que ele gerou vários decretos, leis e resoluções sobre conservação da biodiversidade”, afirmou.
Na área de bioenergia, segundo ele, a FAPESP teve uma primeira iniciativa em 1999, com a criação do projeto Sucest, que avaliou o transcriptoma da cana-de-açúcar. O BIOEN foi criado em 2008.
“O programa BIOEN envolve 314 cientistas, sendo 229 de São Paulo, 33 de outros estados e 52 de outros países. Os recursos investidos já se aproximam de R$ 100 milhões, em 55 projetos. O programa tem inúmeras colaborações com empresas, que cofinanciam pesquisas”, disse Brito Cruz.
O PFPMCG também agrega colaborações internacionais com instituições como o Natural Environment Research Council (Nerc), do Reino Unido, um dos organismos que compõem os Research Councils UK – que mantêm acordo com a FAPESP desde setembro de 2009 –, Agence Nationale de La Recherche (ANR), da França, e Interamerican Institute for Global Change Research (IAI), organização intergovernamental apoiada por nove países nas Américas.


domingo, 4 de março de 2012


Falta de metas em rascunho de documento-base da Rio+20 causa frustração

                              01/03/12 - 14:33
Rio de Janeiro -O rascunho do documento-base para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, causou frustração entre ambientalistas e especialistas pela falta de metas claras para a sustentabilidade, que deverão ser seguidas pelos países nos próximos anos. A avaliação é do presidente do Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Instituto Brasil Pnuma), Haroldo Mattos Lemos.
De acordo com Lemos, o documento, divulgado em janeiro, é composto por muitas intenções e renovações de compromissos que já foram assumidos pelos países em outras ocasiões. O Draft Zero, como é conhecido o documento, reúne sugestões e contribuições de países, grupos regionais, organizações internacionais e da sociedade civil. Ele será o principal texto discutido pelos líderes mundiais na conferência e submetido à aprovação dos estados-membros da ONU na Rio+20.
"A Rio+20 está cercada de muita expectativa, mas esse documento não apresenta metas definidas para a sustentabilidade, que era o que todos nós esperávamos, e gera frustração. Ele fala sobre economia verde, criação de empregos verdes e sobre o comprometimento dos governos com o que foi decidido na Rio 92, com a Agenda 21, e em outros documentos da ONU, mas não tem metas, como o que fazer e até quando", disse Lemos, que participou nesta quinta-feira (1º), no Rio, de um encontro promovido pelo Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégico do Estado, vinculado à Assembleia Legislativa.
Segundo ele, uma das metas esperadas era o compromisso de que os países criassem, em prazo determinado, um certo número de empregos sustentáveis, como os de alguns setores agrícolas, que usam métodos não agressivos ao meio ambiente, e os de setores ligados à energia.
Com o desenvolvimento da economia verde, haverá perda de empregos em algumas áreas, como a pesca, que usa combustíveis fósseis. "Então, uma meta que deveria ter sido incluída é a criação de empregos em áreas sustentáveis, mas não há nada nesse sentido", lamentou.
Lemos ressaltou que, dessa forma, a sociedade civil não terá parâmetros para verificar se os governos estão fazendo o dever de casa e, de fato, desenvolvendo ações que tenham como objetivo a sustentabilidade.  Para ele, a crise econômica que atinge os países europeus e os desdobramentos dela nos Estados Unidos explicam essa tentativa de "empurrar com a barriga" compromissos práticos que deveriam ser assumidos com urgência.
"A recessão na Europa é séria, e os Estados Unidos ainda tentam sair da crise. Isso influencia muito os governos a não se comprometer com metas sérias, que incluem quanto e quando. Descrente de possíveis alterações no documento até o início da conferência, em junho, Lemos alertou: "Estamos numa espécie de emergência planetária. As questões [ambientais] vão se agravar e, quanto mais demorarmos a tomar ações concretas, mais difícil e mais caro vai ser para a humanidade enfrentar esses problemas."