quinta-feira, 24 de maio de 2012

Vinte anos depois

 por Caroline Furlan 

    A partir do dia 20 de junho deste ano, daqui aproximadamente um mês, irá acontecer a Conferência das Nações Unidas, a Rio+20, vinte anos depois da Rio92. Uma atitude quase inevitável é comparar a Rio+20 – Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável à Rio92 – Conferência para Meio Ambiente e Desenvolvimento pois, ambas ocorreram na cidade do Rio de Janeiro e pela grande repercussão que teve em 1992 e a expectativa que a desse ano siga o mesmo caminho da anterior.
   Porém, é importante ressaltar os diferentes contextos, políticos e econômicos em que as duas épocas estão inseridas pois, estes influenciam no posicionamento dos países e nos acordos gerados na conferência. Conforme em entrevista à Revista Época Celso Lafer ministro das Relações Exteriores em 1992 e atual Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) disse que “A Rio 92 aconteceu em um ambiente mais otimista, que foi favorável ao seu sucesso. No cenário internacional, havia a sensação de que o entendimento entre as nações era possível, principalmente porque a Guerra Fria tinha acabado. No Brasil, o governo Collor viu a conferência como a oportunidade de mostrar para o mundo um país redemocratizado. Ele queria enfatizar que a agenda brasileira estava em transformação e que o meio ambiente tinha atenção aqui. (...). A Rio 92 inaugurou e consagrou o conceito do desenvolvimento sustentável”, o qual diferentemente nos dias de hoje, este termo já está bem difundido. É importante citar também que o quadro econômico do país era caracterizado pela estagnação econômica e a hiperinflação.
    Atualmente, o Brasil tem uma presença internacional mais significativa do que tinha há 20 anos trás. Isso pode-se ser notado pelo aumento da expansão econômica do país e a ascensão social de classes mais baixas. Entretanto, no cenário mundial o presente momento econômico e político está difícil e é desfavorável às negociações. A crise econômica que atinge a Europa e a eleições dos Estados Unidos faz com que muitos países deem prioridade para os seus próprios problemas do que dar suporte aos problemas globais.
    Uma das grandes diferenças notadas na Rio+20 é o aumento da mobilização popular. A participação social nos eventos paralelos à convenção juntamente com as discussões sobre os temas abordados na conferência é uma experiência nova para o país, assim como a transmissão ao vivo da Rio+20 para todo o mundo através da internet. Será a primeira vez que a Conferência das Nações Unidas terá uma característica mais participativa. 
    Outra grande diferença entre as conferências foi que a de 92, os chefes de Estados foram ao Rio naquele ano para negociar uma agenda com foco preciso, o que resultou nas Convenções do Clima e da Diversidade Biológica, Carta da Terra e a conhecida Agenda 21, um documento que exortou cada país a elaborar um plano de ação para o desenvolvimento sustentável. Encerrada a Rio92, houve uma intensa atividade diplomática para colocar em prática as decisões tomadas na conferência. Um dos resultados dessas negociações foi a assinatura, em 1997, do Protocolo de Kyoto, que estabeleceu metas para a redução das emissões de gases de efeito estufa pelos países desenvolvidos. 
    Diferentemente de 1992, uma das grandes reclamações sobre a Rio+20 é a falta do foco da agenda, por ser muito difusa e abrangente, muitas pessoas acham que a conferência terá mais um aspecto simbólico do que realmente gerar propostas com intuito de melhorar os problemas globais. José Goldemberg, ex-ministro do meio ambiente, refere-se ao Documento Zero como genérico e carente de ações concretas "O documento tem 128 parágrafos. Desses, 120 são simples exortações ou reafirmações de coisas que já existem". 
    Além disso, na Rio92 a assembléia das Nações Unidas durou cerca de 2 semanas para poder ter tempo dos representantes dos Estados discutissem as resoluções e as propostas elaboradas. Neste ano, a assembleia terá duração de apenas 3 dias, o que não dará tempo para realmente discutir sobre diversos aspectos que é contemplado na Agenda.
    Porém, só podemos dizer se a Rio+20 terá grandes repercussões como a sua anterior, ou não, quando ela acabar, ainda existe espaço e tempo para trazer grandes resultados. Além disso, não se pode medir o sucesso de uma conferencia a partir da quantidade de acordos que ela rendeu. As mobilizações sociais geradas pela Rio+20 pode ser considerada como um grande avanço para a conferência.


                                                                                                                                                                      


Fontes e para saber mais sobre o assunto, acesse:
Entrevista de
Celso Lafer para Revista Época:http://colunas.revistaepoca.globo.com/planeta/2012/05/22/celso-lafer-a-rio20-vai-ser-importante-de-qualquer-forma/
Entrevista de Jose Goldemberg para Fapesp:








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